Elevador da Glória: Alexandra Leitão critica “96 horas de inação” de Carlos Moedas

Alexandra Leitão, candidata socialista à câmara de Lisboa, criticou esta segunda-feira as “96 horas de inação” de Carlos Moedas perante o acidente do elevador da Glória, que vitimou 16 pessoas e feriu outras 22.
“Gostava de acentuar o facto de, na sequência da tragédia, termos tido 96 horas – quatro dias – de inação do presidente da CML. Não convocou o executivo; foi para o Conselho de Ministros não se percebeu fazer o quê; não falou aos lisboetas e, quando falou, ontem, [em entrevista à SIC Notícias] foi para insultar e não para dar soluções”, vincou a candidata em declarações aos jornalistas ao final da manhã, numa altura em que ainda decorre a reunião extraordinária na câmara.
Sublinhando estar “habituada aos ataques pessoais” que lhe têm sido diferidos desde que é candidata, a socialista considerou que os insultos proferidos na entrevista de domingo à noite “atingiram um limite bastante inaceitável”.
“Mas não me vou deter a falar sobre isso. Os ataques pessoais e os insultos dizem mais de quem os profere do que de quem os recebe”, disse, acrescentando que se vai centrar em propostas “para restaurar a confiança na cidade de Lisboa”.
A cidade, disse, “está descuidada” e isso “é visível na higiene urbana, nos espaços públicos”. Agora, acrescentou, “temos mais uma situação que tem ser cabalmente esclarecida e que deixa os lisboetas sem confiança nas estruturas municipais”.
Sobre o descarrilamento do elevador, a líder da coligação de esquerda (PS/BE/Livre) recordou que o seu partido apresentou uma proposta, e dela deu conta na passada sexta-feira, para criar um gabinete e um fundo municipal de apoio às vítimas e para fazer auditorias aos protocolos de vistoria dos elevadores.
“Ao contrário do que têm tentado fazer passar, a nota técnica diz-nos já duas coisas muito claras: a primeira é que o sistema de redundância não chega e a segunda é que as vistorias a olho nu não detectam problemas como o que aconteceu. Então, é preciso mudar alguma coisa”, assinalou.
Questionada sobre se vê erro político na origem da tragédia, Alexandra Leitão mantém o que tem dito, sem pedir a demissão de Carlos Moedas, ao contrário do que já fez, por exemplo, o ex-líder do PS Pedro Nuno Santos.
“Nesta fase, limito-me a pedir mais esclarecimentos e o apuramento de responsabilidades. Não direi mais do que isto, nesta fase. Não é aproveitamento político. Pedir esclarecimentos é o que é exigido para que as pessoas restaurem a sua confiança e para honrar as vítimas”, afirmou.
A candidata a presidente da câmara de Lisboa defendeu também que é preciso encontrar “alternativas” de mobilidade, tendo em conta que os elevadores, não apenas o da Glória, vão ficar sem funcionar durante muito tempo.
Alexandra Leitão criticou ainda Carlos Moedas por ter afirmado numa carta ter aumentado o investimento na Carris em 20 ou 30%. “Na verdade, o investimento na manutenção daquele tipo de elevadores foi de 4%, 4% num período de inflação, e de aumento da carga … para alguém que dá tanta importância à comunicação, foi um erro de comunicação” apontou.
“Sicários” e cinismo
Em entrevista à SIC, a primeira dada a um órgão de comunicação social desde o acidente da semana passada, Carlos Moedas afirmou que “nesta tragédia não há nenhum erro que possa ser imputado a uma decisão do presidente da Câmara”.
“Se alguém provar que alguma ação que eu tenha tido, algo que eu tenha feito como Presidente da Câmara em relação a esta empresa [Carris] levou a que esta empresa não gastasse o suficiente em manutenção, que esta empresa não fizesse aquilo que tinha que fazer, eu demito-me no dia”, disse.
Nesta entrevista, Moedas defendeu que a sua prioridade no dia do acidente foi estar no terreno, “numa das situações mais difíceis que Lisboa já viveu” e não falar com políticos ou responder a perguntas de jornalistas, apontando que têm sido “dias de luto”, nos quais a sua preocupação tem sido procurar dar uma resposta às famílias das vítimas.
O social-democrata criticou ainda o que considera ser “a politização” da tragédia. “Revolta-me muito ver que certos partidos políticos, de uma maneira direta, e outros dissimulados, como é o caso do PS de Lisboa […] porque no fundo tem uma candidata que não vem pedir a minha demissão, mas encarrega todos os seus sicários e todos os seus apoiantes para virem por trás, como Pedro Nuno Santos, como Brilhante Dias”. Sobre o papel de Alexandra Leitão, acrescentou, “foi muito cínico e dissimulado”.
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